quarta-feira, 15 de julho de 2009

DEFUNTO POBRE

Vamos, minha alma, à prestação de contas: Alguém pode julgar que já vivi bastante. Não tenho bens, não tenho status... Dinheiro, um pouco mais que o do caixão.
Nunca mandei, nem desejei mandar... Vivi!Bebi policromias, colhi ritmos...Não faço testamento, faço versos.
Não porque pense em não morrer agora, Porém por já não ter o que legar.a que tinha deixei, de tudo um pouco: Amor, suor, gemidos e canções.
Tenho ainda o meu corpo...Este, entretanto, não sou eu que o deixo: É a vida!E um cadáver não é,Não é bem um legado.
No máximo,Sobejos do que a vida digeriu, Pobres carvões apagadosDe um doce fogo extinto.Não deixo o meu cadáver: ele fica!
É tão belo viver, tão doce a vida, Que nela a dor da morte, Como na Fênix o ovo,É uma só vez, uma única vez.
a corpo morto é dejeção da vida... Que devorem os vermes o meu corpo, .. Não faz mal:Eu o reivindicarei, com juros,Da gordura dos bichos,No dia do juízo universal.
Sobral, 13-04-1962.

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