sábado, 18 de abril de 2009

Canção comunitária.

Água – que é ubíqua na vida
Como Deus na criação,
Água é do rico e do pobre:
Água de parto ao nascer,
Água de pranto na morte.

Ar – cálix da comunhão
De todo ser que respira:
É o ar do beijo no amor,
É o ar, suspiro, ao morrer.

E o pão – não só, mas pão nosso:
Pão só – é meia palavra,
Pão nosso é que é o nome todo,
Sempre nosso em cada dia,
Vínculo da eterna família,
A eterna comunidade:
Planta – bicho – Humanidade.

Pão só – é mutilação:
Pão é nosso, ou não e pão!
Nosso, como é nossa a vida,
Nossa a luta e a morte nossa.
E, pão nosso, não mais nosso,
Mas tão nosso quanto pão.

O que faz o pão ser nosso
É o toma-lo pra comer.
Não tem dono o pão que amasso:
Antes de usar-se é de todos,
Quando usado é que é de um só.

Não é só o suor do rosto
Que dá o pão que se come:
Também o espasmo da fome
Faz nosso o pão que outro fez.

Porque o pão não é pra ser,
Não é pra ter, nem guardar...
O nosso pão vai voltar
De novo a ser de comer!

E o ar? E a água? Que vejo,
Que ouço na água e no ar?
Vejo sangue? Ouço gemidos?
Escuto a morte passar?

Este ar tão bom, tão de todos,
Será de todos ainda
O cálix de comunhão?
De comunhão, sim, será,
Mas comunhão de violências,
De todas as inclemências,
Que trás a Revolução!

E esta água, ubíqua na vida,
Tão comum, comunitária,
Já não será a cristalina
Água da bilha e da fonte,
Mas água cor do horizonte
Que um pôr-de-sol menstruou.

Esta água comunitária
Continuará a ser de todos,
Mas tingida de encarnado:
Em águas de novos partos,
Em olhos de moribundos...
Com a mesma tinta do pão!

Como Israel no Egito
Só teve lar de homem livre
Quando com sangue marcado,
Assim só conhecerão
Que o pão nosso e nosso pão
Quando o tivermos mudado
Na cor, no cheiro e sabor:
Vermelho, cheirando a fogo,
Molhado, sujo de terra,
Com gosto de morte e guerra,
Pão nosso de lutador!

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