segunda-feira, 16 de março de 2009

Antropocentrismo x Degradação do Meio Ambiente

O homem, na Idade Média, era um ser despojado de vaidades pessoais, que se colocava a serviço de Deus. Com o Renascimento, surge o Humanismo, e inicia-se um processo de distanciamento do homem com a natureza, pois ele não mais se vê meramente como parte integrante dela, já que o mundo passa a ser visto e criado a partir da ótica do homem e todas as suas ações passam a legitimar esse propósito.
Sendo assim, a natureza se transforma em objeto da investigação humana. As relações afetivas e espirituais deste homem com a natureza são rompidas aos poucos e começam a mudar. O homem se apropria da natureza e realiza experimentos com ela, com base na razão. O século XVII marca a origem da chamada Revolução Científica na Europa, muito embora esta “revolução” no pensar e agir humanos já viesse ocorrendo desde o Renascimento, culminando com as essenciais descobertas de Galileu Galilei.
Com a Revolução Científica, derradeiramente a postura do homem perante a natureza adquire um contorno diferenciado, pois uma nova visão de mundo foi instituída: materialista, racionalista, mecanicista, instrumentalista e antropocêntrica. Passa a imperar o método reducionista, que só aceita o que se ajusta à razão “cartesiana”. O estudo do corpo humano passa a ser fragmentado, o aprendizado das disciplinas na escola é fragmentado, a compreensão humana sobre o Meio Ambiente é fragmentada. Além, é claro, da natureza em si ser tratada ainda como um objeto, pois os Homens, segundo Descartes, não fazem parte dela.
O paradigma cartesiano, criado por Descartes, fixou as raízes do Antropocentrismo (o homem é o centro do mundo), que hoje tem grande parcela de responsabilidade pela crise ambiental que a humanidade atravessa. Quanto mais o homem passou a se distanciar da natureza, separando-se de suas origens, acreditando ser o “senhor de todas as coisas do mundo”, mais passou a intervir de maneira danosa no Meio Ambiente.
Não se pode negar, evidentemente, que a Revolução Científica possibilitou grandes avanços científicos e trouxe muitos benefícios à humanidade. Contudo, é necessário reconhecer também que trouxe inúmeras conseqüências negativas, o que indica que o modelo cartesiano não é mais adequado e eficaz para sustentar as demandas do planeta no contexto atual de crise ambiental. Por isso, todos os homens são responsáveis, enquanto cidadãos conscientes, pela instauração de uma nova ordem mundial com o objetivo de garantir a continuidade da vida na Terra, seja ela humana ou não, e a manutenção de um Meio Ambiente saudável, levando em consideração um paradigma não só Antropocêntrico, e sim, Ecocêntrico, no qual haja um equilíbrio entre razão e emoção, onde o conhecimento seja integrado e não fragmentado e o homem se aproxime da natureza enquanto parte dela e não como seu proprietário.
A crise ambiental, já há algum tempo, é assunto constantemente presente no mundo todo. Diariamente as pessoas sentem na pele os efeitos da pressão das atividades humanas sobre o Meio Ambiente e começam a perceber que esses efeitos não estão restritos a uma única região do planeta Terra, mas estão em todos os lugares.
Segundo estudiosos, a Terra existe há quase 5 bilhões de anos, e vidas na Terra existem há mais de 3,5 bilhões de anos, sendo que o homem a habita há quase 3 milhões de anos. Há 200 anos é que o Meio Ambiente passou a ser afetado consideravelmente com a ação humana, e há apenas 40 anos é que esses impactos passaram a ser considerados muito graves no planeta.
Não é difícil perceber que tais impactos pioraram em razão dos avanços científicos e tecnológicos ao longo do tempo. Foi com a explosão da bomba atômica, ao final da Segunda Guerra Mundial, que a humanidade tomou consciência da manifestação mais significativa, e ao mesmo tempo nefasta, do poder do homem sobre o Meio Ambiente. Em poucas horas, além da morte de milhões de pessoas, a água foi contaminada, a fauna e a flora local foram exterminadas, etc.
Depois da Segunda Guerra Mundial foram empreendidos muitos esforços e destinado muito dinheiro à causa do desenvolvimento econômico. O modelo social e econômico que passou a vigorar desde então agravou ainda mais os problemas ambientais, pois aumentou a exploração dos recursos naturais para atender às demandas nos processos produtivos, cada vez mais eficientes, mas somente do ponto de vista tecnológico.
Não nos iludamos: os problemas dos recursos ecológicos e os problemas sociais são intimamente interdependentes. Pobreza, crescimento acelerado da população, destruição dos recursos e degradação do Meio Ambiente estão profundamente relacionados. O crescimento da raça humana e as largas disparidades entre poder econômico e político contribuem para a destruição dos recursos e danificam o Meio Ambiente; e recursos e Meio Ambiente degradado afetam a vida das pessoas, podendo, inclusive, contribuir para a instabilidade política e econômica.
É urgente, portanto, que haja uma mudança de paradigmas, com a perpetuação de princípios e valores que exaltem a preservação da vida, o respeito, a justiça social e ambiental, a igualdade entre os povos, dentre outros. Para isso, o pensar e agir humano precisa de uma reorientação, assim como ocorreu a partir do Renascimento.
Todo o nosso de sistema de valores está atualmente pautado em uma Ética Antropocêntrica e , sendo assim, nossa visão do mundo é por ela orientada. O homem resiste à idéia de que para sobreviver precisa mudar radicalmente sua relação com o Meio Ambiente, esquecendo-se de que cada ser humano é uma parte que o integra em sua imensidão e variedade. Certamente, o fato de possuir racionalidade faz do homem um ser diferente, mas não mais importante que as demais criaturas. E justo por ser racional, não deveria ser tão difícil para ele compreender que não há alternativa senão a preservação do Meio Ambiente para que a vida possa subsistir, e para que haja um desenvolvimento, no mínimo, sustentável.
A responsabilidade, então, assume a dimensão de um dever para com o futuro, para com os que ainda virão. E não pode o homem atual negar-lhes o direito à existência futura.

5 Comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse artigo, inteligente e bem atual. Gostaria que aprofundasse nos próximos a relação entre os problemas sociais e os problemas ambientais, acho que seria muito interessante. Parabéns!

Anônimo disse...

Parabens a Gemma por colocar uam pessoa muito inteligente e conhecedora da causa e que tem muito a colaborar com o crescimento ordenado e sustentavel. Espero mais materias e desejo lhe boa sorte !!

Marcos Garcia

Pedro Henriques de Moraes Melo disse...

Querida Gemma,
Estou cursando Mestrado em Gestão e Auditoria Ambientais após ter concluído há alguns anos especializações em Educação Ambiental e Gestão do Negócio em Desenvolvimento Redional Sustentável.
Hoje tenho que fazer um exame sobre Desenvolvimento Sustentável e, apesar do conhecimento, sempre procuro fazer pesquisas sobre o assunto. Quanto mais pesquisamos mais aprendemos.
O artigo publicado está perfeito, completo, histórico e esclarecedor sobre o homem e a degradação do seu maio ambiente.
Parabens.
Pedro Henriques ou ph
Aquele não parnaibano de nascimento e sobralense por querer.

Priscila disse...

Olá!! Também estou escrevendo sobre Meio ambiente e parece que estamos usando o mesmos materia de pesquisa. Seria interessante se vc colocasse a fonte, talvez facilitasse outras pessoas. Por exeplo, uma parte da matéria é uma citação de Macedo(2000). Estou buscando este livro desde que li sobre ele, vc teria informações sobre esse livro?

Priscila disse...

Já encontrei!! Obrigada!

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