Exíguas.
A poesia é substantiva, vive em si mesma. As outras chamadas belas-artes, porém, não poderiam existir sem ela. A poesia, alma de todas as manifestações artísticas, utiliza a plasticidade de todas as artes: os traços e a policromia da pintura, o ritmo e a melodia da música, o escultural da estatuária, a unidade harmoniosa da arquitetura.
“Exiguas” é obra poética no sentido pleno da palavra, porque foi inspirada e estruturada em simbiose perfeita com todas as belas-artes. Em conseqüência, o poeta sente “os olhos sequioso de policromias” e tenta reavivar as cores da “Bandeira Nacional”; pede cantos para seus “ouvidos famintos de música” e emociona – se com a voz dos sinos; diz que em sua pele “arde o desejo de produzir formas esculturais” e canta Francisco de Assis como “escultor existencial”; decifra em Sonho Medieval “a linguagem das ogivas e dos vitrais das grandes catedrais” e o poema mudo das “duas torres magras da Prainha – dois poetas hirtos, absortos no infinito, cismando à beira-mar!”.
Minha apresentação não passa de uma sintomia das reflexões que me vieram à mente, depois de uma rápida leitura intuitiva, e não analítica, dos poemas que compõem esta obra de estréia. O livro de Pe. Osvaldo Carneiro Chaves está a exigir um estudo mais aprofundado, o que espero seja feito pela crítica especializada que certamente prestar-lhe-á a merecida atenção.
De mim, o saúdo como um marco na história da literatura cearense, pois nos coloca na presença de um impressionante poeta que pode estar entre os seus bons artífices do verso.
F. Sadoc de Araújo.
Para: Francisco Sadoc de Araujo.
Dados Biográficos do autor.
1923 – 21 de outubro – Nasce no sítio Angelim, distrito de Sambaiba, município da Granja, Ceará. Filho primogênito de Manuel Chaves Fernandes e Maria Carneiro Chaves, casados a 30 de novembro de 1922.
1924 – Abril – É acometido de poliomielite, com atrofia da perna esquerda.
1929 – Aprende o alfabeto e a soletrar a Carta do ABC, com sua mãe.
1933 – Junho – Lê “Coração”, de Edmondo de Amicis, despertando-lhe o gosto pelas belas-letras.
1935 – Seu pai lhe dá de presente o “Dicionário Prático Ilustrado”, de Jaime de Séguier, obra que passa mais a ler do que simplesmente a consultar, e com grande interesse.
1939 – Matricula-se no Ginásio Lívio Barreto, da Granja, cujo epônimo, poeta da terra, desperta-lhe o gosto pela poesia.
1940 – 8 de fevereiro – Ingressa no Seminário Menor de Sobral.
1941 – O Pe. Antônio Tomás dedica-lhe o soneto “Desencanto”, em resposta a um outro que lhe fora dedicado pelo esperançoso seminarista.
1942 – Aprimora os estudos de língua vernácula e literatura, lendo os poetas e prosadores clássicos. Traduz poemas franceses e éclogas de Virgílio. Reúne seus poemas em forma de livro, a que deu o título de “Heliotrópios”, que não foi publicado.
1945 – Lê a obra de Cassiano Ricardo, o poeta que mais influência exerceu sobre suas criações.
1946 – Fevereiro – Matricula-se no curso de Filosofia do Semionário Maior de Fortaleza.
1948 – Fevereiro – Inicia o curso de Teologia no mesmo Seminário de Fortaleza.
1951 – 8 de dezembro – Na Catedral de Sobral é ordenado sacerdote por Dom José Tupinambá da Frota.
1952 – Inicia o magistério no Seminário de Sobral, como professor de Português, Francês e Música.
1955 – Participa de curso de aperfeiçoamento em Francês com o professor Lucien Brosse, em Fortaleza.
1956 – Exerce as funções de vigário cooperador de Crateús onde leciona em escola secundária.
1957 – Transfere-se para a paróquia de Acaraú. Aí leciona Latim e Inglês.
1959 – É transferido para a paróquia de São Benedito, em cuja Escola Normal leciona Pedagogia, Latim e Francês.
1960 – Junho – Passa a residir definitivamente em Sobral. Retorna ao magistério de Seminário, como mestre de Português, Latim e Grego. Aprofunda-se na leitura dos grandes poetas da literatura universal.
1961 – Inicia o magistério, em nível superior, na Faculdade de Filosofia Dom José, como professor titular de Português e Literatura Luso-brasileira. Aí permaneceu durante treze anos.
1969 – Freqüenta curso de aperfeiçoamento em Língua Portuguesa, na Universidade Federal do Ceará.
1971 – Conclui a Licenciatura em Filosofia Pura, na Universidade Federal do Piauí.
1981 – Aposenta-se por tempo de serviço no magistério: trinta anos.
1984 – Relê os clássicos latinos no poriginal, a começar de Virgílio, Horácio, Ovídio e Cícero.
1985 – Dezembro – Resolve permitir a publicação de suas produções poéticas em livro intitulado “Exíguas”.
Prefácio
Exíguas.
Eu vi surgir no sonho do Universo.
A Beleza perene.
Brilhou para mim no céu a sua estrela.
Maravilhado
Coloquei-me debaixo do seu zênite.
Deslumbramento e embriaguez,
O encanto da sua luz no meu espírito:
Ânsia de traduzir o que senti,
Sonho de comunicar ao mundo
O êxtase que me arrebatou.
Mas foi demais o brilho dessa estrela,
Grande demais o sol
Que me ofuscou os olhos de sonâmbulo.
Acordo e vejo estéreis minhas ânsias,
Vão – todo o esforço de exprimir beleza:
Sonhei ao meio-dia,
E a expressão dos meus sonhos
É pobre como as sombras
Que os mais altos edifícios
Projetam nessas horas.
Era grande o esplendor da beleza que eu vi,
Mas, quanta mágoa:
Mesmo as lembranças do que vi mais belo
São exíguas
Como sombras ao meio-dia.
A poesia é substantiva, vive em si mesma. As outras chamadas belas-artes, porém, não poderiam existir sem ela. A poesia, alma de todas as manifestações artísticas, utiliza a plasticidade de todas as artes: os traços e a policromia da pintura, o ritmo e a melodia da música, o escultural da estatuária, a unidade harmoniosa da arquitetura.
“Exiguas” é obra poética no sentido pleno da palavra, porque foi inspirada e estruturada em simbiose perfeita com todas as belas-artes. Em conseqüência, o poeta sente “os olhos sequioso de policromias” e tenta reavivar as cores da “Bandeira Nacional”; pede cantos para seus “ouvidos famintos de música” e emociona – se com a voz dos sinos; diz que em sua pele “arde o desejo de produzir formas esculturais” e canta Francisco de Assis como “escultor existencial”; decifra em Sonho Medieval “a linguagem das ogivas e dos vitrais das grandes catedrais” e o poema mudo das “duas torres magras da Prainha – dois poetas hirtos, absortos no infinito, cismando à beira-mar!”.
Minha apresentação não passa de uma sintomia das reflexões que me vieram à mente, depois de uma rápida leitura intuitiva, e não analítica, dos poemas que compõem esta obra de estréia. O livro de Pe. Osvaldo Carneiro Chaves está a exigir um estudo mais aprofundado, o que espero seja feito pela crítica especializada que certamente prestar-lhe-á a merecida atenção.
De mim, o saúdo como um marco na história da literatura cearense, pois nos coloca na presença de um impressionante poeta que pode estar entre os seus bons artífices do verso.
F. Sadoc de Araújo.
Para: Francisco Sadoc de Araujo.
Dados Biográficos do autor.
1923 – 21 de outubro – Nasce no sítio Angelim, distrito de Sambaiba, município da Granja, Ceará. Filho primogênito de Manuel Chaves Fernandes e Maria Carneiro Chaves, casados a 30 de novembro de 1922.
1924 – Abril – É acometido de poliomielite, com atrofia da perna esquerda.
1929 – Aprende o alfabeto e a soletrar a Carta do ABC, com sua mãe.
1933 – Junho – Lê “Coração”, de Edmondo de Amicis, despertando-lhe o gosto pelas belas-letras.
1935 – Seu pai lhe dá de presente o “Dicionário Prático Ilustrado”, de Jaime de Séguier, obra que passa mais a ler do que simplesmente a consultar, e com grande interesse.
1939 – Matricula-se no Ginásio Lívio Barreto, da Granja, cujo epônimo, poeta da terra, desperta-lhe o gosto pela poesia.
1940 – 8 de fevereiro – Ingressa no Seminário Menor de Sobral.
1941 – O Pe. Antônio Tomás dedica-lhe o soneto “Desencanto”, em resposta a um outro que lhe fora dedicado pelo esperançoso seminarista.
1942 – Aprimora os estudos de língua vernácula e literatura, lendo os poetas e prosadores clássicos. Traduz poemas franceses e éclogas de Virgílio. Reúne seus poemas em forma de livro, a que deu o título de “Heliotrópios”, que não foi publicado.
1945 – Lê a obra de Cassiano Ricardo, o poeta que mais influência exerceu sobre suas criações.
1946 – Fevereiro – Matricula-se no curso de Filosofia do Semionário Maior de Fortaleza.
1948 – Fevereiro – Inicia o curso de Teologia no mesmo Seminário de Fortaleza.
1951 – 8 de dezembro – Na Catedral de Sobral é ordenado sacerdote por Dom José Tupinambá da Frota.
1952 – Inicia o magistério no Seminário de Sobral, como professor de Português, Francês e Música.
1955 – Participa de curso de aperfeiçoamento em Francês com o professor Lucien Brosse, em Fortaleza.
1956 – Exerce as funções de vigário cooperador de Crateús onde leciona em escola secundária.
1957 – Transfere-se para a paróquia de Acaraú. Aí leciona Latim e Inglês.
1959 – É transferido para a paróquia de São Benedito, em cuja Escola Normal leciona Pedagogia, Latim e Francês.
1960 – Junho – Passa a residir definitivamente em Sobral. Retorna ao magistério de Seminário, como mestre de Português, Latim e Grego. Aprofunda-se na leitura dos grandes poetas da literatura universal.
1961 – Inicia o magistério, em nível superior, na Faculdade de Filosofia Dom José, como professor titular de Português e Literatura Luso-brasileira. Aí permaneceu durante treze anos.
1969 – Freqüenta curso de aperfeiçoamento em Língua Portuguesa, na Universidade Federal do Ceará.
1971 – Conclui a Licenciatura em Filosofia Pura, na Universidade Federal do Piauí.
1981 – Aposenta-se por tempo de serviço no magistério: trinta anos.
1984 – Relê os clássicos latinos no poriginal, a começar de Virgílio, Horácio, Ovídio e Cícero.
1985 – Dezembro – Resolve permitir a publicação de suas produções poéticas em livro intitulado “Exíguas”.
Prefácio
Exíguas.
Eu vi surgir no sonho do Universo.
A Beleza perene.
Brilhou para mim no céu a sua estrela.
Maravilhado
Coloquei-me debaixo do seu zênite.
Deslumbramento e embriaguez,
O encanto da sua luz no meu espírito:
Ânsia de traduzir o que senti,
Sonho de comunicar ao mundo
O êxtase que me arrebatou.
Mas foi demais o brilho dessa estrela,
Grande demais o sol
Que me ofuscou os olhos de sonâmbulo.
Acordo e vejo estéreis minhas ânsias,
Vão – todo o esforço de exprimir beleza:
Sonhei ao meio-dia,
E a expressão dos meus sonhos
É pobre como as sombras
Que os mais altos edifícios
Projetam nessas horas.
Era grande o esplendor da beleza que eu vi,
Mas, quanta mágoa:
Mesmo as lembranças do que vi mais belo
São exíguas
Como sombras ao meio-dia.
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