terça-feira, 27 de outubro de 2009
Uma riqueza do meu grande pai
Houve um tempo em que eu e meu pai tínhamos um diálogo muito difícil, nossas divergências brotavam muito facilmente e eu até evitava de ir mais à Sobral. Um certo dia eu acabei externando minha preocupação num cartão que deixei no quarto dele lá em Sobral. Pra minha feliz surpresa ele me respondeu com uma bela carta que eu nem lembrava mais onde andava mas a reencontrei recentemente enquanto arrumava uma montanha de coisas que guardei ao longo da vida.
Desde que a "achei" nem sei quantas vezes eu a li, cheio de emoção, de muito carinho e respeito por meu pai e sua sabedoria. Sou-lhe muito grato por ser esse cara assim, com que eu tenho a possibilidade de trocar ideias, de amadurecer, de divergir muito e até bater boca, mas sei que jamais nos faltará um amor infinito e a convicção de que temos um papel a cumprir aqui mesmo, onde ele chama de "paraíso". No fim, somos diferentes, mas muito iguais também, e é assim que quero ser com meu filho Guilherme.
Eu quero então compartilhar com você um grande riqueza do meu pai, que é ser um grande pai.
Meu caro filho Inácio:
Fiquei muito contente com o seu cartão; tão contente que renovo o ímpeto para tecer comentários sobre os problemas que v. aborda e nós, ambos, sofremos.
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que não me perturba a evidência de que os nossos caminhos serão diferentes. O importante é que v. e eu nos esforcemos para atingirmos um patamar de mútua compreensão, ante as exigências irrevogáveis da vida prática. Eu sei que os caminhos transitados pelo meu pai não foram iguais aos caminhos do pai dele, como sei que os caminhos dos meus filhos não seguirão as minhas pegadas. Neste aspecto, o fundamental, mormente para as pessoas do seu nível intelectual e ético, é a plena compreensão do momento histórico (todos os momentos são históricos) que vivemos, para que não nos frustremos batendo a cabeça no muro ou tentando parar o trem com o braço estendido.
Aprendi, com certo alarme e dor, que para alcançar nossos intentos de felicidade, temos que ceder suficientemente ante as imposições da comunidade, do comum dos homens, compatibilizando o nosso querer com as regras essenciais, ao mesmo passo que devemos reter alguns esforço para batalhar contra os maldosos, os bobos, os arbitrários, os donos da vida e do mundo, de tal forma que ao final do processo apresentemos alguns êxitos e vitórias para melhorar a civilização.
A meu ver tudo tem que caminhar nos prazos da história, cujos passos são as nossas gerações, e não adianta querer queimar etapas, sob pena de pagar com a própria cabeça, arruinando a vida bela e feliz que almejamos, e, de contra peso, ceder aos “farizeus”.
Por exemplo: sua mãe e eu temos lutado para construir um núcleo de pessoas ajustadas, humildes e competentes, de espírito aberto para receber e usar a colaboração de outros, fazendo o mundo melhor do que ele era quaundo nós a ele chegamos.
Este nosso propósito, que não é escrito nem formal, apenas resultado espontâneo da nossa aspiração de felicidade está dando certo.
Aqui estão vivendo e lutando e amando conosco, o Francisco, o Veveu, a Ciana e a Hildinha. Ao que nos parece todos felizes e realizando as aspirações de sua indidualidade.
Imagine, então, como seremos fortes e felizes, se o Inácio, a Ana Paula, a Maria do Carmo e o Luciano Filho fortalecerem a nossa corrente e nos tornamos aquela família que todos os pais estão sonhando.
Bom, o final é muito fácil.
Basta que o tempo, a experiência, e, sobretudo o amor dos que lhe amam, façam-lhe compreender que o “paraíso” somos nós, entendendo uns aos outros e aberto para tudos.
Um grande abraço do
seu pai
Luciano Arruda
Desde que a "achei" nem sei quantas vezes eu a li, cheio de emoção, de muito carinho e respeito por meu pai e sua sabedoria. Sou-lhe muito grato por ser esse cara assim, com que eu tenho a possibilidade de trocar ideias, de amadurecer, de divergir muito e até bater boca, mas sei que jamais nos faltará um amor infinito e a convicção de que temos um papel a cumprir aqui mesmo, onde ele chama de "paraíso". No fim, somos diferentes, mas muito iguais também, e é assim que quero ser com meu filho Guilherme.
Eu quero então compartilhar com você um grande riqueza do meu pai, que é ser um grande pai.
Meu caro filho Inácio:
Fiquei muito contente com o seu cartão; tão contente que renovo o ímpeto para tecer comentários sobre os problemas que v. aborda e nós, ambos, sofremos.
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que não me perturba a evidência de que os nossos caminhos serão diferentes. O importante é que v. e eu nos esforcemos para atingirmos um patamar de mútua compreensão, ante as exigências irrevogáveis da vida prática. Eu sei que os caminhos transitados pelo meu pai não foram iguais aos caminhos do pai dele, como sei que os caminhos dos meus filhos não seguirão as minhas pegadas. Neste aspecto, o fundamental, mormente para as pessoas do seu nível intelectual e ético, é a plena compreensão do momento histórico (todos os momentos são históricos) que vivemos, para que não nos frustremos batendo a cabeça no muro ou tentando parar o trem com o braço estendido.
Aprendi, com certo alarme e dor, que para alcançar nossos intentos de felicidade, temos que ceder suficientemente ante as imposições da comunidade, do comum dos homens, compatibilizando o nosso querer com as regras essenciais, ao mesmo passo que devemos reter alguns esforço para batalhar contra os maldosos, os bobos, os arbitrários, os donos da vida e do mundo, de tal forma que ao final do processo apresentemos alguns êxitos e vitórias para melhorar a civilização.
A meu ver tudo tem que caminhar nos prazos da história, cujos passos são as nossas gerações, e não adianta querer queimar etapas, sob pena de pagar com a própria cabeça, arruinando a vida bela e feliz que almejamos, e, de contra peso, ceder aos “farizeus”.
Por exemplo: sua mãe e eu temos lutado para construir um núcleo de pessoas ajustadas, humildes e competentes, de espírito aberto para receber e usar a colaboração de outros, fazendo o mundo melhor do que ele era quaundo nós a ele chegamos.
Este nosso propósito, que não é escrito nem formal, apenas resultado espontâneo da nossa aspiração de felicidade está dando certo.
Aqui estão vivendo e lutando e amando conosco, o Francisco, o Veveu, a Ciana e a Hildinha. Ao que nos parece todos felizes e realizando as aspirações de sua indidualidade.
Imagine, então, como seremos fortes e felizes, se o Inácio, a Ana Paula, a Maria do Carmo e o Luciano Filho fortalecerem a nossa corrente e nos tornamos aquela família que todos os pais estão sonhando.
Bom, o final é muito fácil.
Basta que o tempo, a experiência, e, sobretudo o amor dos que lhe amam, façam-lhe compreender que o “paraíso” somos nós, entendendo uns aos outros e aberto para tudos.
Um grande abraço do
seu pai
Luciano Arruda
4 Comentários:
Ser personagem dessa história e puder testemunhar diariamente tamanha sabedoria e visão de mundo é motivo de muito orgulho pra todos nós.
Papai reune inúmeros atributos morais e éticos,mas uma caracteristica muito peculiar é ser muito espirituoso , sempre consegue ter um outro "Olhar" para os acontecimentos.
Obrigada Gemma pela postagem
Maria
Gemma, quanta delicadeza sua permitir que outras pessoas compartilhem dessas lições que o papai nos dá ao longo de seus 78 anos. Foi no convívio com o papai, a mamãe, o Ducito, o Veveu, a Ciana, a Hilda, a Nampaula, a Maria, o Luciano Filho, a Isabel, o Chical, a mãe Teresa e outros tantos como a "família" da Rua Deolindo Barreto e muito sobralenses, que me formei como um ser humano capaz de perceber o que é momento histórico em que vivemos e almejar os avanços que a vida demanda. Este ano completam-se 30 anos que saí de Sobral, mas como diz o matuto, Sobral não saiu de mim. Por isso me honra ser sobralense da gema e saber que outros tantos se orgulham, não se importante com quem quer que "veja".
Beijo afetuoso.
Seu blog já tá na minha lista, viu?
Muito linda a carta do teu pai Inácio, mas principalmente muito realista, muito pé no chão. Parabéns a vocês todos.
Emerson Saboia
Caros conterrâneos,
O que a princípio poderia parecer apenas uma contenda familiar comum, daquelas que a esmagadora maioria prefere manter, resolver ou dissumular intramuros, foi passada pros leitores do Blog como um magistral exemplo de sabedoria, compreensão, respeito mútuo e transparência, próprios dos grandes. Os Arrudas da Deolindo cresceram, ainda mais, em nosso conceito. Obrigado pela lição. Costa.
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